Nem todo fim acontece de uma vez.
Às vezes, é o outro que vai embora, mas é a gente que fica presa na esperança de uma volta, suspensa entre a despedida e a resolução que ainda não veio.
Enquanto o outro decide se vai, a gente vive com a alma em pausa, tentando seguir, mas sempre voltando ao mesmo lugar.
Porque tem finais que não acabam por falta de amor, acabam por excesso de espera.
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Ela queria que ele ficasse. Mas ele nunca ficava.
Vinha com o corpo meio presente, o coração tremendo.
Ela sabia disso e ainda assim, toda vez que ele devolvia um livro, ela emprestava outro.
Despretensiosamente, cheia de intenção.
Escolhia com cuidado, fingia distração:
- Esse aqui é a sua cara.
Ele pegava o livro com um sorriso de canto, como quem não percebia. Ou como quem percebia tudo, mas preferia não dizer.
E assim, sem falar nada, ela construía uma ponte infinita.
Livro após livro. Palavra após palavra.
Um jeito doce e trágico de deixá-lo voltar.
Sempre que sentisse vontade. Sempre que a saudade apertasse, ou a vida cansasse demais.
E ela ficava.
Do outro lado da ponte.
Vivendo sua vida, como se não esperasse.
Mas esperando. O próximo livro. E ele.