02 Apr
02Apr

Na terapia do esquema, aprendemos que o abandono deixa marcas profundas, ligadas à busca por perfeição e aceitação. O sofrimento surge quando tentamos moldar quem somos para agradar o outro, acreditando que assim seremos amadas. Porém, ao enfrentarmos o abandono, percebemos que a dor não reflete nossa falha, mas a imperfeição do amor. Com o tempo, entendemos que a verdadeira cura está em não nos abandonarmos, em acolhermos nossa própria dor e buscarmos a renovação interna. O amor não está na validação do outro, mas em nossa capacidade de ser inteiras e cuidar de nós mesmas.
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Dentro dela tudo era impactado pelas palavras avulsas. Mas o silêncio doía de uma dor diferente. 

Agitação sem pausa. Dores que foram abertas, de repente. 

Não foi preciso muito pra doer demais: aquele abandono antigo, as dúvidas que sempre teve sobre seu próprio valor. Bastou que alguém não a quisesse, daquele jeito que ela imaginava. Bastou que a o “não” chegasse para que ela pensasse: “como assim?”. 

“Eu fiz tanto esforço até aqui pra transformar toda essa merda em algo bom e vc não consegue ver?” 

E aí, ela dá aquele sorriso bobo ao reconhecer que é a dor fazendo vir à tona o desejo de ser amada daquele jeito que queria e sempre quis: pelo que é e sempre foi, mas que só é capaz de dar para alguns (poucos), em que (sabe-se lá porque) consegue confiar. 

Ela era um misto de dores novas e antigas. Então, se pega no colo, agora é adulta e pode fazer o melhor por si mesma. Agora ela pode chorar e pode se curar num abraço confortável, desse abandono novo. 

Ela descobre que não é sobre seu valor, nem sobre quem é. É a vida acontecendo do jeito que sempre foi: fora do seu controle. 

Dessa vez, ela não gritou, ela não correu atrás. Ela se recolheu e se cuidou, consigo mesma. Porque todos podem a abandonar, menos ela mesma.

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